terça-feira, março 17, 2009

Do acidente de carro que fez ontem 24 anos

Até onde terão ido as consequências daquela noite?

Até que ponto são as minhas memórias as memórias comuns? Serão elas verdadeiras?
Quanto muito posso relatar aqui factos do modo como os vi / vivi/ senti. Tenho no entanto a perfeita consciência que poderão não corresponder à realidade e no entanto até fazer o puzzle completo seria necessário juntar tantas mais memórias dos mesmo factos.

Então retomo a narrativa:

Naquela noite de Março o meu pai impossibilitado de levar o meu irmão às 11 e tal para as urgências deixou-o em casa da minha mãe.

Lembro-me nitidamente de percorrer aqueles quase 400 m noite cerrada rua acima, de braço ao peito num curativo improvisado com paus e ligaduras que os socorristas fizeram, caladinha que nem um rato não fosse o meu pai enervar-se ainda mais.
Chegados a casa da minha mãe lembro-me dele tocar à campaínha do prédio, de pedir à minha mãe para descer e de já no hall ela ficar irritadíssima e pedir para ele levar o meu irmão também. Lembro-me de o meu irmão querer ficar com ela, de o meu pai dizer que não o podia levar (vejamos, eu teria 9 anos e o meu irmão 7), que a I. nos vinha buscar e que íamos ao hospital que ela devia compreender.

Lembro-me do ar aborrecido da minha mãe de quem fcou com todos os planos de fim-de-semana estragados.
Nas minhas recordações e hoje, adulta, consigo compreender porquê no entanto este espaço é para as minhas recordações e não para conclusões sobre as vidas de ninguém, ainda que a vida da minha mãe tenha levado a que eu tenha esta recordação.

Tudo está intrincado.

O meu pai, nessa noite, revelou-se uma pessoa mais calma do que eu pensei ou teria visto numa situação de crise e a minha revelou um pouco do que eu mais tarde viria a verificar inúmeras vezes.

Sem dúvida essa noite marcou-me. Não por uma porcaria de um gesso.
Marcou porque chegados ao hospital e não sendo aquele o da área de residência e não querendo eles fazer qualquer RX o meu pai ia literalmente partindo aquilo tudo por causa de um bracito.
Marcou porque a minha I. (que na altura não teria nenhuma obrigação de me levar a um hospital a não ser a dos laços que estava a criar com o meu pai) foi impecável.
Marcou porque no regresso pensava eu que a I. iria ficar a dormir com o meu pai e eu no sofá mas não, eu dormi com o meu pai e ela foi para casa.
Marcou porque a minha mãe ficou como fim-de-semana estragado e com outros dias da semana - aqueles em que eu tinha que ir avaliar a evolução das melhoras.

E por último marcou porque estive imensos anos sem querer tirar a carta!

2 comentários:

Anónimo disse...

Pequenos nadas, que fazem toda a diferença, não é Vanda?

V. disse...

Pequenos nadas conseguem por vezes marcar mais diferneça do que grandes tudos, é sim Fátima :)

Obrigada por vires partilhar as minhas memórias e recordações.

Beijinhos