quarta-feira, agosto 12, 2009

Coisas de infância

Enquanto escrevia um post no blog sem nome surgiu-me a ideia para outro (este) e desse surgiu-me esta memória, uma mémória que não é de todo linear, vários aspectos acabam por estar intrincados nesta coisinha "tão simples" que é a vida familiar na infância e as suas repercurssões na vida adulta.

Para quem não vai ler o post do Sem Nome a memória surgiu-me ao escrever que «Não, não tenho feitio nem de queixas nem de lamúrias nem de desabafos banais. Para mim a lágrima é uma coisa séria».

Nem sempre fui assim e o feitio também é uma coisa que se molda.

Quando eu era miúda eu e o meu irmão andávamos constantemente às turras, e andar às turras era nos dias bons: aquilo era de fazer sangue. Enfim, dávamo-nos muuuito bem!

Uma regra que havia em casa (e mesmo com o divórcio continuou a vigorar mas passou a vigorar em duas casas - na da mãe e na do pai) era não haver queixinhas.

As coisas passavam-se sempre da mesma forma (ou quase sempre): havia a briga e chorava-se. Vinha o pai ou a mãe pôr ordem na questão, começavam as queixas de "foi ele!!" ou "foi ela!!" e a única resposta da mãe era que não interessava quem tinha sido, não ouvia queixas. Bem... o pai era mais radical: quem se queixasse, mesmo tendo razão, apanhava uma palmada e acreditem que a mão do meu pai de leve nunca teve nada.

O que sempre me deixou danada foi apanhar de dois lados: do meu irmão, que me ia bater, empurrar, puxar cabelos ou o que fosse que lhe desse na telha, e assim que eu resmungava ou refilava ou chorava (dependendo do estímulo) apanhar do meu pai por me estar a manifestar.

Mas asseguro que o que não nos mata torna-nos mais fortes e também asseguro que pode demorar algum tempo mas sempre nos adaptamos às situações.

O que sei e tenho a certeza absoluta é que este tipo de educação teve toda a influência no modo como manifesto as situações menos boas (e apesar de tudo também as boas) que acontecem na minha vida e nunca mas nunca seria possível se eu não tivesse tido irmãos.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Concertos sem conserto

A 6 de Fevereiro de 1994, quando os Nirvana vieram ao Dramático de Cascais e eu não pude ir ver, prometi que não iria falhar mais concertos que fossem importantes para mim.

Foi com esse espírito que cheguei a ver algumas bandas mais que uma vez ao vivo, porque me dizem realmente qualquer coisa, prefiro ir ver uma banda que já vi do que ser uma "papa-concertos", "Maria-vai-a-todos" que vai por dizer que foi.

Não, eu não sou assim tão velha mas posso dizer que ainda sou do tempo em que vir uma banda actuar em Portugal era um verdadeiro acontecimento, uma coisa que todos esperavam ansiosamente e não a banalização que é hoje de "ah, e tal, se não for ver neste festival vou no próximo. E tu? Ah, eu prefiro ver em recinto fechado, não gosto muito de festivais". E pronto, a opção é tanta que ver uma banda ao vivo é quase tão banal como ir ao cinema, senão mais.

Mas já me estou a afastar da linha de pensamento - linha anterior que devia estar noutro blog porque este é apenas para memórias e não para divagações - e a somar a 15 de Março de 2008 vem este sábado 8 de Agosto marcar uma sensação semelhante à que senti a 6 de Fevereiro, com menos raiva e mais conformismo (os mais de 30 anos já se fazem notar na digestão dos sentimentos) e visto que ninguém ainda morreu com esperança de uma outra oportunidade, quem sabe?

Entretanto vou vibrando com isto





(Nirvana, "Lithium", 1991)



(Fullmoonchild, "Red Queen", 2004)



(Faith no More, "Stripsearch", 1997)

quinta-feira, agosto 06, 2009

Uma memória leva a outra

Por falar em carta, quando estava a tirar a minha eu morria de medo de não conseguir, que acontecesse alguma coisa, eu sei lá, para mim aquilo foi um terror. Eu ia a chorar para as aulas como stress.

O meu instrutor nunca me deixou desistir mesmo comigo a implorar. Mesmo comigo a chegar ao pé dele sem entrar no carro e a dizer que tinha só ido avisar que estava a desistir. O que ouvia era um "eu tenho a sua morada, atreva-se a faltar que eu vou lá buscá-la, toca mais é a entrar no carro e falamos pelo caminho!"

Por volta de Outubro propus-me para exame de condução, mas a data estava demorada a marcar. A família e alguns amigos começaram a ficar impacientes e sempre a perguntar se já tinha exame marcado. A impaciência deles traduziu-se num aumento da minha e num aumento dos meus receios, especialmente de chumbar, parecia que tudo ia depender daquilo, só pensava que se falhasse iria deixar todos ficar mal.

Quando a data do exame finalmente veio decidi que não ia contar a ninguém que não precisasse saber. E as pessoas que precisavam mesmo saber eram a minha chefe (eu precisei de pedir o dia) e o Thunder. A ambos pedi que não fizessem alarido nem se pusessem com "boas sortes" nem nada disso. Seria uma ida a Lisboa e mais nada. Confesso que estava convencidíssima que ia chumbar.

Mas passei. A minha surpresa foi tão grande que só acreditei quando o examinador trouxe os documentos que comprovavam. Fiquei mesmo estupidificada.

Aí sim, liguei aoThunder a dizer. Depois à minha mãe, que me disse: «mas... mas... eu falei contigo e tu não me disseste nada, disseste que ainda não tinhas data.»

Foi uma mentirinha piedosa para ambas. Ela não stressou e eu não fiquei com o peso da responsabilidade de não desiludir ninguém.

Ela compreendeu.

Acredito que vá compreender de novo no futuro.

Há dias assim

Há dias em que me lembro de tudo e dias em que não me lembro de nada.

Hoje lembrei-me de quando fui tirara carta. Do tempo que passei a pensar desistir. Depois lembrei-me de todas as coisas que iniciei e das quais quis desistir e não me deixaram, quer dizer, incentivaram-me a seguir em frente. E destas coisas, carta incluída, lembro-me agora do prazer que dá tê-las e de como um empurrãozinho na hora certa para não desistir foi bom e de como devo esses empurrõezonhos dados na hora certa pela pessoa certa.

E depois lembro-me das coisas que já devia ter desistido há imenso tempo e não deisti.

E depois lembro-me de todos os empurrõezinhos que eu dei, das energias que perdi a dar a força certa na hora certa mas... à pessoa errada. E de como as pessoas erradas a quem eu dei uns empurrões na hora certa agora me empurram também, mas na direcção errada. E me fazem ficar a marcar passo.

Mas isto são coisas que eu não devia pensar nem lembrar.